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Der Mensch und die Technik
Oswald Arnold Gottfried Spengler
(1931)

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O Homem e a Técnica O Homem e a Técnica
A TÉCNICA COMO TÁTICA DE VIDAA TÉCNICA COMO TÁTICA DE VIDA
O PROBLEMA da técnica e de sua relação com a Cultura e a História só no século dezenove é que se apresenta pela primeira vez. O dezoito, com o seu cepticismo fundamental - com a sua dúvida que se avizinhava do desespêro - havia proposto a questão do sentido e do valor da Cultura. Foi um assunto que levou a outros cada vez mais largos e subdivididos, criando assim para o bécnlo vinte, para os nossos próprios dias, a possibilidade de olhar a História Universal como um problema.

O século dezoito, a era de Ro binson Crusoe e de Jean Jacques Rousseau, dos parques ingleses e da poesia pastoril, considerava o homem "primitivo" como uma espécie de corcleirinho pacífico e virtuoso, que mais tarde a

Cultura deitou a perder. Seu aspecto técnico era completamente esquecido ou, se chegavam a vê-lo, consideravam-no iudigno da antenção do moralista.

Mas depois de Napoleão a técnica maquinista da Europa ocidental cresceu a proporções gigantescas e, com suas cidades fabrís, suas estradas~de-ferro e barcos a vapor obrigou-nos finalmente a encarar o problema de frente e a sério.

Qual a significação da técnica? Qual o seu sentido dentro da História?

O seu valor dentro da vida? Que posiçã-o ocupa, social e metafisicamente?

Ofereceram-se muitas respostas a essas perguntas, mas no fundo elas se podem reduzir a duas.

De um lado, os idealistas e ideólogos, os epígonos do Classicismo humanista da época de Goethe, consideravam as coisas técnicas e os assuntos econômicos corno fora ou melhor, abaixo da "Cultura". O próprio Goethe, com seu grande senso do real, havia procurado, no seu segundo Fausto, penetrar nas mais fundas profundidades dêsse novo mundo-de-fatos.

Mas já em Wilhelm von Humboldt temos os princípios de urna concepção filológica e antirealista da História que, no fim de contas, aquilata o valor de uma época histórica pelo número de quadros e livros que ela produziu.

Um homem de govêrno só era olhado como figura significativa quando ganhava foros de patrono da literatura e da arte. Pouco importava a maneira como se conduzia em outros terrenos. O Estado era um constante obstaculo à verdadeira Cultura que se buscava nas salas de conferências, nos refúgios dos estuüiosos e dos artiStas. Mal se chegava a dar crédito à possibilidade da guerra, que não passava de uma barbárie de épocas pretéri:as.

A economia era qualquer coisa de prosaico, estúpido e indigno de nossa atenção, embora na realidade fôsse assunto de trato d1ano.

Mencionar o nome de um grande comerciante ou de um grande engenheiro junto com o de

Poetas e pensadores, era quasi um ato de lêse-majesté à "verdadeira Cultura" . Examinemos, por exemplo, as Weltgeschichtliche Betrachtungen

(Considerações sobre a História Universal) de Jakob Burckhardt.

Seu ponto de vista é característico da maioria dos professores de filosofia e até de nao poucos historiadores, ao mesmo tempo que e tambem o ponto de vista dêsses literatos e estetas de nossos dias que consideram a elaboraçao dum romance mais importante que o projeto de um motor de avião.

De outra parte havia. o Materialismo - em sua essência um produto inglês. Estava em grande moda entre os semi-cultos da segunda metade do século passado. Era a filosofia do jornalismo liberal e das assembléias populares radicàis, dos marxistas e dos escritores ético-sociais que se consideravam pensadores e profetas.

Se o característico da primeira classe era uma falta do senso da realidade, no segundo grupo o que havia era uma ausência devastadora do sentido de profundidade. O ideal dos materialistas era o útil e a penas o útil. Tudo quanto fôsse útil à "humanidade" era. um elemento legítimo de Cultura, era na realidade Cultura. Quanto ao resto .. . luxo, superstição ou barbárie.

Agora: essa utilidade era a utilidade que: levava à "felicidade do maior número" e essa felicidade consistia em não fazer , nada. Tal é em última análise a doutrina de Bentham, Spencer e Mill.

Afirmirmava-se que o objetivo da humanidade consistia em aliviar o indivíduo da maior quantidade possível de trabalho, atirando a carga para cima da máquina. Libertar os homens da "miséria da escravidão ao salário", dar-lhes igualdade nas diversões e confortos e no "gôzo da arte".

É o panem et circenses da urbe gigantesca das épocas de decadência que se está apresentando.

Os filisteus do progresso se entusiasmavam liricamente a cada botão que punha em movimento um aparelho cuja finalidade era, ao que se supunha, a economia do trabalho humano. Em lugar da religião honesta dos tempos passados, havia um entusiasmo superficial pelas "conquistas da humanidade" - palavras estas que nada mais querem dizer senão progresso na técnica da economia do trabalho e da fabricação de divertimentos.

Sôbre a alma, porém, nenhuma palavra.

Ora, tais ideais não são em absoluto do gôsto dos grandes descobridores (com raras exceções) nem mesmo dos que conhecem bem os problemas técnicos. Mas o é dos especta dores que os cercam e que, inc:apazes de descobrir qualquer coisa ou pelo menos compreender o que por acaso descobrissem, sentem que há no ar algo que pode redundar em seu benefício. Nessas condições, uma vez que em cada "civilização" o materialismo se distingue por sua falta de fôrça imaginativa, surge o quadro dum futuro no qual o fim último e a condição duradoura e final da humanidade é um paraíso terrestre, concebido segundo as tendências técnicas, digamos, da casa dos 80 no século passado - uma desconcertante negação do conceito mesmo de progresso, que por hipótese exclue os "Estados".

Essa ordem de idéias é representada por livros como o Alte und Neue Glaube (A

Antiga e a Nova Fé) de Strauss, Looking Backward (Retrospecto) de Bellamy e Die

Frau und der Sozialismus (A Mulher e o Socialismo) de Bebe!. Nada de guerras; não mais diferenças de leis, raças, estados ou religiões; nada de criminosos e aventureiros nada de conflitos surgidos da superioridade e das diferenças na maneira de ser das pessoas; não mais ódios ou vinganças, mas apenas um infinito bem-estar por todos os séculos dos séculos. Mesmo hoje em. dia, quando estamos ainda a viver as últimas fases dêsse otimismo trivial, tais imbecilidades nos fazem estremecer à idéia do pavoroso tédio - o taedium vitae da Roma Imperial - que se estende sobre a alma humana à simples leitura dêsses idílios. Porque se êles se tornassem éfelivos na vida real, ainda mesmo que apenas l'm parte, só poderiam levar ao assassínio e ao suicídio em massa.

Ambos êsses pontos de vista estão hoje antiquados. Chegamos finalmente, com o século vinte, a uma era suficientemente madura para penetrar na significação derradeira dêsscs fatos cuja totalidade constitue a histéria do mundo. A interpretação das coisas e dos acontecimentos não é mais assunto do gôsto privado de alguns indivíduos de tendência racionalizadora, ou das esperanças e desejos elas massas. Em lugar do "talvez seja assim" ou do "devia ser assim" teremos os inexoráveis "é assim" e "há de ser assim". Um cepticismo orgulhoso vem substituir os sentimentalismos do século passado. Aprendemos que a História é qualquer coisa que não tem em menor conta as nossas esperanças.

O tacto fisiognomônico, como chamei em outro livro à faculdade que nos permite penetrar o sentido dê todo o acontecimento - a intuição de Goethe e de todos os que nasceram com o dom de conhecer as criaturas, a vida e a histona através dos tempos - o tacto fisiognomônico é que descobre no indivíduo seja ele pessoa ou coisa, a sua significação mais profunda.




O PROBLEMA da técnica e de sua relação com a Cultura e a História só no século dezenove é que se apresenta pela primeira vez. O dezoito, com o seu cepticismo fundamental - com a sua dúvida que se avizinhava do desespêro - havia proposto a questão do sentido e do valor da Cultura. Foi um assunto que levou a outros cada vez mais largos e subdivididos, criando assim para o bécnlo vinte, para os nossos próprios dias, a possibilidade de olhar a História Universal como um problema.

O século dezoito, a era de Ro binson Crusoe e de Jean Jacques Rousseau, dos parques ingleses e da poesia pastoril, considerava o homem "primitivo" como uma espécie de corcleirinho pacífico e virtuoso, que mais tarde a

Cultura deitou a perder. Seu aspecto técnico era completamente esquecido ou, se chegavam a vê-lo, consideravam-no iudigno da antenção do moralista.

Mas depois de Napoleão a técnica maquinista da Europa ocidental cresceu a proporções gigantescas e, com suas cidades fabrís, suas estradas~de-ferro e barcos a vapor obrigou-nos finalmente a encarar o problema de frente e a sério.

Qual a significação da técnica? Qual o seu sentido dentro da História?

O seu valor dentro da vida? Que posiçã-o ocupa, social e metafisicamente?

Ofereceram-se muitas respostas a essas perguntas, mas no fundo elas se podem reduzir a duas.

De um lado, os idealistas e ideólogos, os epígonos do Classicismo humanista da época de Goethe, consideravam as coisas técnicas e os assuntos econômicos corno fora ou melhor, abaixo da "Cultura". O próprio Goethe, com seu grande senso do real, havia procurado, no seu segundo Fausto, penetrar nas mais fundas profundidades dêsse novo mundo-de-fatos.

Mas já em Wilhelm von Humboldt temos os princípios de urna concepção filológica e antirealista da História que, no fim de contas, aquilata o valor de uma época histórica pelo número de quadros e livros que ela produziu.

Um homem de govêrno só era olhado como figura significativa quando ganhava foros de patrono da literatura e da arte. Pouco importava a maneira como se conduzia em outros terrenos. O Estado era um constante obstaculo à verdadeira Cultura que se buscava nas salas de conferências, nos refúgios dos estuüiosos e dos artiStas. Mal se chegava a dar crédito à possibilidade da guerra, que não passava de uma barbárie de épocas pretéri:as.

A economia era qualquer coisa de prosaico, estúpido e indigno de nossa atenção, embora na realidade fôsse assunto de trato d1ano.

Mencionar o nome de um grande comerciante ou de um grande engenheiro junto com o de

Poetas e pensadores, era quasi um ato de lêse-majesté à "verdadeira Cultura" . Examinemos, por exemplo, as Weltgeschichtliche Betrachtungen

(Considerações sobre a História Universal) de Jakob Burckhardt.

Seu ponto de vista é característico da maioria dos professores de filosofia e até de nao poucos historiadores, ao mesmo tempo que e tambem o ponto de vista dêsses literatos e estetas de nossos dias que consideram a elaboraçao dum romance mais importante que o projeto de um motor de avião.

De outra parte havia. o Materialismo - em sua essência um produto inglês. Estava em grande moda entre os semi-cultos da segunda metade do século passado. Era a filosofia do jornalismo liberal e das assembléias populares radicàis, dos marxistas e dos escritores ético-sociais que se consideravam pensadores e profetas.

Se o característico da primeira classe era uma falta do senso da realidade, no segundo grupo o que havia era uma ausência devastadora do sentido de profundidade. O ideal dos materialistas era o útil e a penas o útil. Tudo quanto fôsse útil à "humanidade" era. um elemento legítimo de Cultura, era na realidade Cultura. Quanto ao resto .. . luxo, superstição ou barbárie.

Agora: essa utilidade era a utilidade que: levava à "felicidade do maior número" e essa felicidade consistia em não fazer , nada. Tal é em última análise a doutrina de Bentham, Spencer e Mill.

Afirmirmava-se que o objetivo da humanidade consistia em aliviar o indivíduo da maior quantidade possível de trabalho, atirando a carga para cima da máquina. Libertar os homens da "miséria da escravidão ao salário", dar-lhes igualdade nas diversões e confortos e no "gôzo da arte".

É o panem et circenses da urbe gigantesca das épocas de decadência que se está apresentando.

Os filisteus do progresso se entusiasmavam liricamente a cada botão que punha em movimento um aparelho cuja finalidade era, ao que se supunha, a economia do trabalho humano. Em lugar da religião honesta dos tempos passados, havia um entusiasmo superficial pelas "conquistas da humanidade" - palavras estas que nada mais querem dizer senão progresso na técnica da economia do trabalho e da fabricação de divertimentos.

Sôbre a alma, porém, nenhuma palavra.

Ora, tais ideais não são em absoluto do gôsto dos grandes descobridores (com raras exceções) nem mesmo dos que conhecem bem os problemas técnicos. Mas o é dos especta dores que os cercam e que, inc:apazes de descobrir qualquer coisa ou pelo menos compreender o que por acaso descobrissem, sentem que há no ar algo que pode redundar em seu benefício. Nessas condições, uma vez que em cada "civilização" o materialismo se distingue por sua falta de fôrça imaginativa, surge o quadro dum futuro no qual o fim último e a condição duradoura e final da humanidade é um paraíso terrestre, concebido segundo as tendências técnicas, digamos, da casa dos 80 no século passado - uma desconcertante negação do conceito mesmo de progresso, que por hipótese exclue os "Estados".

Essa ordem de idéias é representada por livros como o Alte und Neue Glaube (A

Antiga e a Nova Fé) de Strauss, Looking Backward (Retrospecto) de Bellamy e Die

Frau und der Sozialismus (A Mulher e o Socialismo) de Bebe!. Nada de guerras; não mais diferenças de leis, raças, estados ou religiões; nada de criminosos e aventureiros nada de conflitos surgidos da superioridade e das diferenças na maneira de ser das pessoas; não mais ódios ou vinganças, mas apenas um infinito bem-estar por todos os séculos dos séculos. Mesmo hoje em. dia, quando estamos ainda a viver as últimas fases dêsse otimismo trivial, tais imbecilidades nos fazem estremecer à idéia do pavoroso tédio - o taedium vitae da Roma Imperial - que se estende sobre a alma humana à simples leitura dêsses idílios. Porque se êles se tornassem éfelivos na vida real, ainda mesmo que apenas l'm parte, só poderiam levar ao assassínio e ao suicídio em massa.

Ambos êsses pontos de vista estão hoje antiquados. Chegamos finalmente, com o século vinte, a uma era suficientemente madura para penetrar na significação derradeira dêsscs fatos cuja totalidade constitue a histéria do mundo. A interpretação das coisas e dos acontecimentos não é mais assunto do gôsto privado de alguns indivíduos de tendência racionalizadora, ou das esperanças e desejos elas massas. Em lugar do "talvez seja assim" ou do "devia ser assim" teremos os inexoráveis "é assim" e "há de ser assim". Um cepticismo orgulhoso vem substituir os sentimentalismos do século passado. Aprendemos que a História é qualquer coisa que não tem em menor conta as nossas esperanças.

O tacto fisiognomônico, como chamei em outro livro à faculdade que nos permite penetrar o sentido dê todo o acontecimento - a intuição de Goethe e de todos os que nasceram com o dom de conhecer as criaturas, a vida e a histona através dos tempos - o tacto fisiognomônico é que descobre no indivíduo seja ele pessoa ou coisa, a sua significação mais profunda.






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